19 Janeiro 2022
Esses são os outros números da pandemia. O revés da medalha: por um lado vacinados e hospitalizados, pelo outro quem - alguns gigantes, antigos e novos, farmacêuticos e das biotecnologias - produzindo essas vacinas, salva vidas, mas também aumenta suas fortunas. E assim, ao lado do Covid, o vírus histórico das desigualdades voltou a galopar novamente após um 2020, o primeiro ano da era do Coronavírus, de relativa estase.
A reportagem é de Eugenio Fatigante, publicada por Avvenire, 18-01-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Se para muitos a luta contra a pandemia (com os respetivos fechamentos de atividades econômicas) comportou o empobrecimento financeiro, nestes 2 anos, os 10 homens mais ricos do mundo mais do que duplicaram seus patrimônios, de 700 para 1.500 bilhões de dólares, num ritmo de 15 mil dólares por segundo. No mesmo período, estima-se que 163 milhões de pessoas tenham caído na pobreza (ou seja, vivendo com menos de US$ 5,50 por dia) em comparação com o período pré-pandêmico. E as projeções dizem que, sem intervenções radicais, não é provável que se retorne à situação anterior antes de 2030.
As diferenças socioeconômicas também pioraram na Itália: nos 21 meses de pandemia entre março de 2020 e novembro de 2021, o número de bilionários italianos na 'lista da Forbes' cresceu em 13 nomes, de 36 para 49. A família Ferrero (chocolate) é confirmada em primeiro lugar, seguida por Leonardo Del Vecchio, com Berlusconi 'apenas' em quinto lugar, precedido em terceiro lugar por aquele Stefano Pessina que muitos teriam dificuldade em reconhecer e que é um dos acionistas da Walgreens Boots Alliance, gigante na distribuição de fármacos.
Como todos os anos, a Oxfam, a confederação internacional de ONGs engajadas na luta contra as desigualdades, que está investigando essas diferenças sociais clamorosas que, por ocasião da abertura do Fórum Econômico Mundial, publicou ontem o relatório “A Desigualdade Mata”. Desde o início da emergência Covid-19, a cada 26 horas um novo bilionário se juntou a uma elite composta por mais de 2.600 super ricos, cujas fortunas aumentaram em 5 trilhões de dólares, em termos reais, também nos 21 meses levados em consideração.
Alguns produtores de vacinas entraram no grupo desses tios Patinhas, denuncia a Oxfam, que já em julho de 2021 havia falado sobre "O grande roubo de vacinas" e agora fala de 'variante bilionários': os monopólios detidos pela Pfizer, Biontech e Moderna permitiram que realizassem lucros de US$ 1.000 por segundo e criaram 5 novas realidades bilionárias.
No entanto, a desigualdade prolonga o curso da pandemia: apenas menos de 1% de suas vacinas chegaram a pessoas em países de baixa renda até agora. A porcentagem de pessoas com Covid-19 que morrem por causa do vírus nesses países é cerca do dobro das nações ricas, enquanto apenas 4,81% de sua população foi vacinada até o momento. "A desigualdade não é uma fatalidade, mas o resultado de escolhas políticas precisas - disse Gabriela Bucher, diretora da Oxfam Internacional, que, por isso, volta a propor a ideia de um imposto sobre os mais ricos -. Nunca foi tão importante intervir nas injustiças e desigualdades cada vez mais marcadas”.
Em vez disso, acontece que empresas como Pfizer/Biontech e Moderna cobrem uma dose até 24 vezes seu custo de produção, numa prensa que também vê os esforços dos países em desenvolvimento para derrogar sobre as regras da propriedade intelectual das relativas patentes na sede do Organização Mundial do Comércio (OMC). A consequência é que a falta de acesso a vacinas está aumentando ainda mais a distância entre países ricos e pobres e está atrasando a recuperação global.
No entanto, a Oxfam denuncia, tudo isso poderia ser inevitável: bastaria uma renúncia à OMC e uma injeção financeira que poderia custar menos de 10 bilhões de dólares. Um nada, por exemplo, para Jeff Bezos, o boss da Amazon, que durante a pandemia acumulou sozinho um superávit patrimonial igual a mais de 81,5 bilhões de dólares, que equivale ao custo total estimado da vacinação (duas doses e reforço) para toda a população mundial. “Já agora os 10 super ricos têm uma riqueza seis vezes superior à riqueza dos 3,1 bilhões de pessoas que são os 40% mais pobres da população mundial" afirma ainda Bucher.
Mesmo que suas fortunas fossem reduzidas em 99,993%, eles ainda seriam membros titulados do top 1% global”. O vírus da desigualdade também atinge em particular as mulheres que, além de terem perdido um total de 800 bilhões de dólares em renda em 2020, enfrentam um aumento significativo do trabalho de cuidado não remunerado, que ainda hoje recai principalmente sobre elas.
"Os bancos centrais injetaram bilhões de dólares nos mercados para salvar a economia, mas muitos desses recursos foram para os bilionários que aproveitaram o boom do mercado acionário", conclui Bucher. Também na Itália, a riqueza líquida total dos bilionários italianos que somava 185 bilhões de euros em novembro de 2021, aumentou de 56% (66 bilhões) em relação ao primeiro mês de Covid. E os 40 mais ricos hoje possuem o equivalente à riqueza líquida de 30% dos italianos mais pobres (18 milhões de adultos).
O relatório está disponível aqui.
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Oxfam acusa: a “variante bilionários” aumenta as desigualdades mundiais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU